Cinema e feminismos entre poética e devir: por uma tecnologia engendrada
Resumo
Esse artigo visa contribuir para a construção de uma poética feminista no cinema e audiovisual contemporâneo concebida na ideia de trânsito ou fluxos para sujeitos de gênero compreendidas/os fora da lógica dos binarismos “cis” e heteronormativos. Para tanto, atualiza a acepção em Lauretis (1987) de que o cinema se constitui como tecnologia de gênero, e aborda tal premissa no contexto das imagens tecnológicas e digitais através do conceito de percepto de devir feminista. Tal relação proposta engloba a ideia de que a poética feminista atualmente se alicerça cada vez mais na prerrogativa das experiências próprias de personagens subjetificadas/os, por um caminho patêmico no qual mulheres cis e trans não mais são colocadas sob o olhar do outro-homem-dominador, mas, ao contrário, se enunciam sob referências de seus próprios cotidianos e espaços de interlocução. Nesse sentido, a atualização da ideia de tecnologia de gênero para o cinema está ligada ao fato de que tais imagens configuram desterritorializações, devires, tanto no que toca a relação hegemonia-subalternidade no sistema sexo-gênero como no que se refere à própria ideia dos sujeitos legítimos e nomeados no feminismo. Como escopo investigativo, lanço um olhar sobre a produção Dude looks Like a Lady, parte da série de curtas em pornografia feminista intitulada XConfessions (LUST, 2013, 125min), oriundos de relatos em texto sobre fantasias e/ou experiências enviadas pela internet. Apesar de tratar de tal realização em particular, a trago também como espaço de acionamento de outras produções na perspectiva do feminismo, que endossam ou potencializam o lugar da diferença em produções com foco nos sujeitos engendrados.Downloads
Referências
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